Nem sempre é rápido resolver um problema na
Justiça. Muitas vezes, um simples processo pode levar anos, longe de uma
solução.
A conciliação, uma das chamadas Soluções
Extrajudiciais de Conflitos, é uma alternativa para quem precisa solucionar
transtornos de forma prática e eficiente. Em muitos casos, o diálogo pode ser a
melhor opção tanto para casos que já estejam tramitando na Justiça, quanto para
aqueles que ainda não se tornaram processos de fato.
Para Bruno Braga Cavalcante, defensor público
do Estado e autor de um artigo científico sobre a atuação extrajudicial, a
conciliação existe como um método eficaz e barato de promover a paz social. A
alternativa atende desde questões individuais, como pensões alimentícias,
divórcios e quitação de dívidas, até assuntos de interesse coletivo, como
problemas de determinado bairro ou município. "A solução extrajudicial dos
conflitos é a maneira mais célere e eficaz de pacificação social. A
judicialização é morosa, extremamente onerosa, e ao final do processo, apesar
de teoricamente dizer com quem está o direito ou a razão naquela causa, grande
parte das vezes o conflito entre as partes persiste, com a interposição de
recursos e o prosseguimento a perder de vista do litígio", afirma o
defensor público. Além disso, Bruno afirma que todos esses processos significam
um custo financeiro significativo para o Estado.
Há décadas os procedimentos conciliatórios
aparecem em diversas legislações no Brasil, especialmente no Código de Processo
Civil e na Lei de Alimentos, explica Bruno Braga. Mesmo sendo uma fase
obrigatória antes da instrução processual e a sentença, a conciliação ganhou
maior visibilidade recentemente. "Somente nos últimos anos as técnicas
extrajudiciais mereceram maior destaque, tendo em vista o completo abarrotamento
de processos na Justiça que pouco consegue dar vazão ante as limitações
estruturais e de pessoal, e que mesmo quando há sua finalização, nem sempre
conduz à paz social. Os operadores do Direito e os próprios legisladores vêm
privilegiando cada vez mais estes meios alternativos de solução dos
problemas", afirma.
Desde 2008, a Defensoria Pública do Pará tem
como princípio de gestão promover de forma prioritária a solução extrajudicial
de conflitos nos casos possíveis de tal solução. Na própria legislação, desde
2009, a Lei Orgânica Federal possui o foco na conciliação e, em 2013, sofreu
adaptação nesse sentido no plano estadual. "É uma grande conquista para a
sociedade e para o próprio aperfeiçoamento da democracia ao reduzir as tensões
sociais de modo célere, efetivo e menos oneroso", afirma Bruno.
Solução alcançada através do diálogo
No início de 2012, a pedagoga Cristina Pereira
e sua amiga, que na época estava impossibilitada de andar, passaram por um
constrangimento no aeroporto de Brasília durante uma conexão. As duas perderam
um voo de volta para Belém após a companhia aérea não ter providenciado uma
cadeira de rodas que havia sido solicitada, o que causou um transtorno para as
duas, que tiveram que viajar apenas durante a madrugada. Foi marcada uma
audiência de conciliação entre elas e a empresa aérea para resolver o problema
e a alegação de danos morais. Cada uma das partes deu sua proposta até que
ambas chegassem a um acordo comum. Segundo Cristina, a conciliação ocorreu de
forma justa e tudo foi resolvido rapidamente. "Foi positivo, porque a
conciliação evitou muitos transtornos e aborrecimentos. Foi tudo mais rápido e
prático", afirma.
Uma das vantagens da conciliação, como o
próprio nome já diz, é solucionar o problema através de um comum acordo entre
as partes. Coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública
do Estado, Arnoldo Perez ressalta a possibilidade de solucionar uma demanda
através do diálogo. "Na conciliação, as partes envolvidas têm a
possibilidade de conversar entre si e com o conciliador e chegar num
denominador comum. Dessa forma, ambas as partes ganham e a solução pode
acontecer de forma mais rápida e viável para todos os envolvidos",
afirmou.
Celeridade de Atendimentos extrajudiciais gera
economia
A procura por alternativa de conciliação vem
crescendo. Pesquisa feita pelo defensor público Bruno Braga indicou que em 2009
quase 12,5 mil casos foram encerrados pelo diálogo entre as partes. Em 2012, o
número de processos que seguiu esse caminho saltou para mais de 19,5 mil casos.
Os números indicam que a conciliação se tornou uma alternativa popular, mas
diante do número geral de processos, ainda pouco procurada.
O primeiro passo para os interessados em
seguir pelo caminho da conciliação é a busca por um advogado particular ou a
ida diretamente aos Juizados Especiais. Aqueles considerados vulneráveis ou
hipossuficientes podem procurar a Defensoria Pública do Estado em Belém ou no
interior, que atende a todos de forma gratuita. Nesse caso, o defensor público avaliará
a possibilidade de fazer uma tentativa de conciliação com a parte contrária.
"Nos grandes pólos regionais e na capital, a instituição pode adiantar
essa triagem por meio do disk 129, com o agendamento do atendimento no setor
devido e com a documentação necessária. A conciliação ou mediação é formalizada
por meio de um acordo assinado entre as partes e, caso seja descumprido, pode
ser executado judicialmente, pulando várias etapas que deveriam ser enfrentadas
caso houvesse a judicialização do conflito desde o início", explica Bruno
Braga.
Recursos - Os atendimentos extrajudiciais
representam para o Estado uma economia de recursos públicos que chega à casa
dos milhões de reais. Cruzando dados de atendimentos extrajudiciais da
Defensoria do Pará entre 2009 e 2012 e o custo estimado de um processo no
Brasil por ano, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), chegou-se ao dado
de que a atuação extrajudicial e efetiva da Defensoria do Pará nesse período
gerou uma economia de R$ 281 milhões de reais aos cofres públicos. Além dessa
economia, existe a vantagem de pacificar efetivamente a sociedade. "São
dados apenas indicativos, mas que já apontam a certeza que é um modelo em que
todos ganham", explica Bruno Braga.
Fonte: Amazônia Jornal