E
tudo começou com uma mulher. A Defensora Pública Florisbela Cantal, 60 anos, há
31 anos constrói a história da assistência aos mais necessitados no Pará. Mãe
de dois homens, um casal de netos que já fala em abraçar a mesma profissão, ela
recorda que muita coisa mudou desde que ocupou, em 1983, uma pequena sala na
Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA).
Pelas
mãos do jurista Benedito Monteiro, a hoje Corregedora reeleita Florisbela
Cantal Machado auxiliou a implantação da chamada, à época, Assistência
Judiciária do Estado do Pará.
Em
sua primeira portaria, a designação para ser “advogada dos legalmente
necessitados”, função que foi deixada pelo Ministério Público. “A valorização
da mulher como defensora aconteceu gradativamente. Quando eu era estudante de
Direito, estagiária do escritório do Vinicius Hesketh, havia poucas juízas e
advogadas. O Fórum era um ambiente masculino”, recordou.
Segundo
ela, nem as estudantes de Direito frequentavam o Poder Judiciário. Andar pelos
corredores, por si só, já chamava atenção pelo simples fato de ser do sexo
feminino. “Não tínhamos local de trabalho. Depois de criada a Assistência
Judiciária, passamos a ocupar uma sala no térreo do TJ, onde estavam mais de
mil processos parados e que precisávamos dar andamento”, relembrou.
Do
porão do Tribunal para o prédio da antiga Bechara Mattar. Esta foi à sequência
da Defensoria, sempre com a atuação da corregedora. Ainda naquela época, a
Defensoria era “um apêndice da Procuradoria Geral do Estado”. Depois, ocorreu o
desmembramento, o que a transformou em coordenadora geral da capital.
A primeira Defensora também presidiu a
comissão que elaborou o primeiro projeto de lei que instituiu a Defensoria. Foi
aprimeira mulher presidente da Associação dos Defensores Públicos do Estado e
trabalhou ativamente para a aprovação da Lei Complementar Nacional da
Defensoria Pública. “Abri mão da minha família, de momentos de lazer, mas valeu
à pena”, comenta.
A
Defensora Florisbela Cantal confirma: a mulher tem, sim, mais sensibilidade
como um todo. “Na condição de alma feminina, resolvemos o litígio acirrado,
fazemos com que a coisa flua amigavelmente. A questão dolorosa se transforma em
alívio”, conta, acrescentando que sempre fala mais alto “o lado humano e até
maternal nessas horas”. “Somos como anjo da guarda feminino. A mulher faz com
que tudo seja resolvido mais rápido”, completou.
Para
a Corregedora da Defensoria Pública, essa trajetória é o seu melhor exemplo.
“Ser Defensora é um dos maiores orgulhos que eu trago na vida. Me orgulho de
tudo por que passei, de uma profissão que era desacreditada e que hoje é
um dos maiores ícones de Justiça, uma das maiores escolas de Direito”, pontuou.
De
seu trabalho como Corregedora, a prioridade não é abrir procedimento ou
instaurar inquéritos. O essencial e fundamental em seu dia a dia é resolver o
problema que levou o assistido a procurar a Corregedoria. O primeiro olhar
ainda é como Defensora. “Ser corregedora mulher me ajuda a contribuir na
manutenção do bom comportamento de uma categoria para atender com dignidade o
assistido”, finalizou.
O mais alto cargo da carreira já foi
ocupado por uma mulher. A Defensora Anelyse Freitas foi a primeira Defensora
Geral do Estado. Hoje, é titular do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos
(NDDH).